10th Latin American Conference on Process Safety

Análise Crítica De Indicadores De Segurança De Processos De Uma Indústria Agroquímica

Authors

Gravina Porto, L., Adama Brasil

RESUMO

A segurança de processos tem como foco a prevenção de acidentes envolvendo produtos químicos perigosos, tais como os manuseados em indústrias do ramo agroquímico. Para isso, modelos de gestão de segurança de processos são adotados, como o desenvolvido pelo CCPS (Center for Chemical Process Safety) que aborda a gestão baseada em risco (RBPS – Risk Based Process Safety). Neste modelo, os indicadores e métricas de segurança de processos são incluídos no pilar de aprendizado com a experiência e sustenta que a melhoria da segurança deve estar associada ao monitoramento dos resultados. Portanto, este trabalho teve como objetivo implementar indicadores reativos e proativos de segurança de processos em uma indústria agroquímica com base nas diretrizes do RBPS. Foram implementados no ano de 2020, 3 indicadores de eventos, TIER 1, TIER 2 e TIER 3, nas duas unidades da companhia com monitoramento de valores absolutos de ocorrências e taxas. Também foram implementados indicadores de desempenho do percentual de investigações de eventos de segurança de processos, qualidade dos reportes de eventos e percentual de participação em MOC (Management of Change). Como resultado, a implementação das métricas tem contribuído substancialmente para a melhoria da segurança de processos e para o fortalecimento da cultura nas duas unidades da companhia.

INTRODUÇÃO

As indústrias químicas podem ser consideradas as mais seguras quando comparadas à outras plantas produtivas (CROWL, 2015). No entanto, mesmo com todo o avanço tecnológico e o aprimoramento de sistemas e ferramentas de gestão de segurança, acidentes de processo continuam acontecendo (KLETZ, 2013). Especificamente em plantas do ramo agroquímico, a história e os aprendizados para aprimoramento da segurança teve como precursor o acidente ocorrido em Bophal, na Índia, em 1984, onde mais de 2000 fatalidades ocorreram após o vazamento de um produto intermediário de síntese (CROWL, 2015). Outro caso de destaque e que confirma que acidentes continuam acontecendo, ocorreu 30 anos depois nos Estados Unidos, no estado do Texas, em uma planta de fungicidas e inseticidas com o vazamento de metilmercaptana, que resultou na morte de 4 pessoas (CSB, 2019).

Ambos os acidentes descritos acima tiveram como causa a inadequada gestão de segurança de processos (IChemE, 2022). Dada como causa raiz do evento ocorrido no Texas, o gerenciamento de segurança de processos tem se tornado cada vez mais essencial para a prevenção de acidentes catastróficos. Devido a isso, diferentes modelos de gestão e ferramentas estão disponíveis e são seguidas por indústrias de processos, como o PSM (Process Safety Management) da OSHA (Occupational Safety and Health Administration) e o RBPS do CCPS.

No entanto, o desempenho destes sistemas de gerenciamento de segurança nem sempre é monitorado e por consequência falhas e vulnerabilidades não são identificados preventivamente. Por isso, associar indicadores e métricas aos sistemas de gestão é uma prática recomendada para garantir a melhoria contínua do sistema. Além disso, estas métricas podem usadas para benchmarking entre indústrias e segmentos e como indicador proativo de problemas que podem levar à eventos indesejáveis (CCPS, 2018).

Portanto, este trabalho tem por objetivo implementar indicadores proativos e reativos de segurança de processo em uma indústria do ramo agroquímico, segundo diretrizes do CCPS. Especificamente, tem por escopo:

  1. Implementar indicadores de eventos de segurança de processo, incluindo taxa de eventos
  2. Implementar indicadores de desempenho do sistema de gestão de segurança de processo
  3. Desenvolver relatório de indicadores

METODOLOGIA

O desenvolvimento deste trabalho adotou como metodologia de pesquisa o estudo de caso por se tratar de um tipo de estudo adequado para investigar problemas práticos (ANDRÉ, 2016). Este método utiliza dados qualitativos coletados em situações reais e visa explicar ou descrever tais fatos. Caracterizando-se como um estudo detalhado de um caso que tem importância por si só, por aquilo que representa (BRANSKI et. al., 2010).

A implementação dos indicadores seguiu as diretrizes do Guia de Métricas de Segurança de Processo para Indicadores Proativos e Reativos publicado em versão 4.1 de Junho de 2022. Assim, a identificação de um acidente, ou de forma ampla denominado como evento neste trabalho, foi realizada conforme lógica estabelecida pelo CCPS. Da mesma forma, a classificação dos eventos em TIER 1, TIER 2 e TIER 3 seguiu as definições contidas neste guia, incluindo as condições limites para perdas de contenção de vazamentos.

A companhia na qual o caso abordado neste estudo foi desenvolvido é uma indústria do ramo agroquímico, multinacional e com duas unidades de produção no Brasil. Identificadas como Site 1 e Site 2, as duas unidades possuem características distintas entre si, no entanto, ambas são unidades com mais de uma planta produtiva, incluindo síntese, formulação e envase, sendo algumas do tipo multipropósito. Especificamente, o Site 1 possui 11 plantas produtivas e em torno de 180 colaboradores efetivos e ligados as atividades industriais, também integra no quadro de trabalhadores das plantas industriais colaboradores terceirizados. O Site 2 possui 5 unidades fabris e em torno de 90 colaboradores ligados as atividades industriais.

Os dois sites da companhia possuem gerenciamento de segurança de processos implementado, sendo que até 2019 foi baseado nos 14 pilares do PSM da OSHA e após este ano iniciou a incorporação dos elementos de gestão baseada em risco do CCPS. Desta forma, alguns elementos como Gestão de mudança, Gestão de emergências, Práticas de trabalho seguro, Revisão de segurança pre-startup, Integridade Mecânica e outros, possuem nível avançado de implementação. No entanto, elementos considerados novos dentro do gerenciamento, ou seja, elementos não abordados pelo PSM da OSHA e incorporados pelo RBPS, precisaram ser implementados, assim como o elemento Métricas e Indicadores. Logo, neste trabalho serão apresentados os resultados a partir do ano de 2020 quando os indicadores de eventos e desempenho começaram a ser monitorados pela companhia segundo as diretrizes da gestão baseada em risco.

RESULTADOS

A implementação dos indicadores do sistema de gestão de segurança de processos da companhia teve como etapa inicial a definição dos conceitos de cada um. Os indicadores dos eventos TIER 1, TIER 2 e TIER 3 foram descritos com os critérios para classificação de cada um, considerando as consequências destes eventos. Os eventos classificados como TIER 1 e TIER 2 são quantificados em números absolutos e como taxa, T1-R e T2-R, respectivamente, que leva em consideração à quantidade de horas trabalhadas.

Os indicadores de eventos foram implementados no ano de 2020 e são monitorados mensalmente nos dois sites da companhia. Em 2020, por exemplo, ocorreram um total de 7 eventos, sendo 4 deles classificados como TIER 1 e 3 como TIER 2. Destes, seis deles foram casos de perda de contenção primária de produtos perigosos acima dos limites estabelecidos pelo CCPS.

O terceiro indicador de eventos implementado na companhia é o TIER 3 e seu histórico é apresentado na Figura 7. O TIER 3 é monitorado mensalmente nos 2 sites desde 2020, quando um total de 240 incidentes foram reportados. Em 2021, o total de TIER 3 foi de 299 representando um aumento de 25% quando comparado com o ano anterior. Este aumento é atribuído ao fortalecimento da cultura de reporte e comunicação de eventos de segurança de processos ao longo dos dois anos de monitoramento.

Além dos indicadores de eventos, também foram implementados três indicadores proativos relacionados com o desempenho do sistema de gestão de segurança de processo da companhia. O indicador da qualidade dos reportes de eventos teve como motivação à percepção da companhia de que muitos relatos feitos não continham as informações básicas para a classificação do evento e para que fosse possível realizar uma investigação assertiva. De forma similar, o indicador das investigações de eventos foi estabelecido para o monitoramento da tratativa dada as ocorrências. Por fim, o último indicador implementado foi para monitorar o envolvimento dos trabalhadores nos processos de gestão de mudança realizados na empresa.

CONCLUSÃO

O monitoramento de desempenho do sistema de gestão de segurança através de indicadores é uma prática que permite garantir a melhoria contínua do sistema e evitar acidentes de criticidade maior. Em virtude disso, a implementação de indicadores reativos, como TIER 1 e TIER 2, e de indicadores de desempenho do RBPS, como o percentual de investigações de eventos, contribuiu de forma objetiva na melhoria da segurança de processos da indústria objeto deste trabalho.

A definição dos indicadores de eventos (TIER 1, TIER 2 e TIER 3) com base em critérios bem estabelecidos permitiu que o monitoramento fosse feito nas duas unidades da companhia, mesmo que ambas possuam processos e características específicas. Ao mesmo tempo, os indicadores de desempenho permitiram evidenciar vulnerabilidades do sistema de gestão da segurança de processos da empresa e têm contribuído para a melhoria dos elementos do RBPS relacionados e que tidos como falhos no sistema de gestão.

Por fim, a implementação das métricas de segurança de processo na indústria agroquímica contribuiu para o fortalecimento da cultura e da gestão, servindo como base para implementação de melhorias e trazendo visibilidade para oportunidades. Tendo em vista a melhoria contínua necessária em todo sistema de gestão, a inclusão de novos indicadores de desempenho também está prevista.

REFERÊNCIAS

Referências foram omitidas deste resumo por limitação de caracteres.